quarta-feira, 17 de junho de 2015

Psicologia? A ditadura da beleza


Vivemos em um mundo em que a imagem predomina cada vez mais. Na busca dessa melhor imagem, somos capazes de lançar mão dos mais variados recursos, sejam cosméticos, cirúrgicos, ou dermatológicos. O corpo passou a ser o foco privilegiado das atenções e investimentos. Ao folhearmos uma revista, ligarmos a televisão, olharmos os outdoors pelas ruas, lá estão expostos os corpos esquálidos como ideal de perfeição feminina.

Nas últimas décadas a magreza se tornou um modelo e isso naturalmente criou muitos problemas, se não tivermos o senso crítico somos levados a querer experimentar de tudo que nos dê o corpo perfeito, como a perfeição não existe nossa autoestima despenca.

Há um abuso que faz com que grande parte da ocupação, principalmente das mulheres, seja o corpo em si. Isso acaba se tornando uma compulsão, que vai do exercício físico exagerado à compulsão alimentar. O corpo ideal não existe; existe o corpo que a pessoa tem. Todo padrão de beleza causa um desastre no inconsciente e gera um cárcere emocional. Massacrados pelo modelo imposto pela mídia, as pessoas destroem sua autoestima, sua saúde física mental. É a maior ditadura de todos os tempos.

O corpo é nosso primeiro universo; além de nos conceder abrigo, ele é responsável pelas primeiras impressões que experimentamos na vida: aromas, luminosidade, sons, tato, calor, frio etc. é por meio dele que nos comunicamos com o mundo externo, pois muito antes de termos a linguagem falada e escrita, já éramos um corpo com grande habilidade de se fazer entender e ter satisfeitas nossas necessidades básicas. Segundo Descartes, o “eu real” não é o corpo físico, mas a substância pensante e não material totalmente distante do corpo material.

Talvez nós ainda não tenhamos dado conta do tamanho do patrimônio que recebemos na forma de três dimensões: corpo, mente e espírito. É exatamente por isso que tenhamos nos tornado uma multidão de pessoas que, apesar de livres, parecem condenadas a uma incessante repetição de um padrão de robotização de seus corpos, que acaba por distorcer seus pensamentos (mente) e aprisionar sua capacidade de autorreflexão (consciência). Seguem um modelo que carece de sentido e prazer e, frequentemente utilizam como escudo protetor as situações de perigo e desamparo. 

Se considerarmos que felicidade tem um significado diverso para cada um de nós seres humanos, ela depende de autoconhecimento, pois somente assim saberemos que somos, como funcionamos, do que gostamos, o que nos faz mal, o que faze muito bem, quais os nossos talentos e capacidades de explorar-los criativamente e onde devemos buscar a nossa felicidade.

Fazer exercício físico, ter boa alimentação tratar o corpo ou mesmo fazer cirurgia plástica podem ser fatores importantes dentro nosso processo de autoconhecimento, pois isso nos traz a responsabilidade sadia de nos cuidarmos de forma carinhosa, o que é bom. Mas cuidar excessivamente do corpo e criarmos um “eu” quase sintético pode revelar uma profunda rejeição que sentimos por nos mesmos e, em vez de exercer um “auto-carinho” estaremos cultuando uma “automutilação”.

Como não existe felicidade à venda, ela depende de valorizarmos os aspectos bons (físicos, mentais e espirituais) e ajustarmos nossos aspectos limitadores que nos trazem desconforto vital. Se assim não for, estaremos construindo corpos desconectados de nossa essência. Estaremos brincando de Deus pelo lado ruim: ao criar corpos clonados a partir e um ser perfeito fisicamente, porém inexistente.
Maria Inez de Andrade Aires

                                                                                                                                            Psicóloga

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